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14 setembro 2012

fiquei rendida a esta história! :)


porque é sobre um cão. porque um sr. que se apaixonou por esse cão. e é uma pequena história, real, escrita por um autor de quem gosto. Valter Hugo Mãe!

tudo aqui!

16/8
o freud é um cão pequenito, educado, silencioso. terá sido abandonado nas férias de um dono burro. veio cá para casa ontem e anda pelos cantos a cheirar tudo. acho que me vai fazer a terapia certa. vamos ser muito amigos. eu já sou. ele, surpreendido, está confuso e grato.
17/8
como já imaginava, o freud é um pouco tarado. fica para lá das ideias quando passa uma cadelita na rua. até me rosna. acho que só faz chichi para mostrar a pila de lado, acho que só gosta de passear para que as cadelitas desprevenidas se enamorem dele.
continua sem me dar grande importância. agradece o carinho, mas não se emociona comigo. tenho de esperar. o cão é lento do coração, rápido da esperteza, absoluto na beleza. adoro.
18/8
o freud deita-se a observar-me. bisbilhota os meus livros, o que leio, cansa-se muito de ver livros. às vezes, refila. levanta a pata, começa a tocar-me no braço. se paro a leitura, ele sossega. faço-lhe uma festa. sossega. volto a ler, suspira, certamente achando que sou um palerma por gostar de henry james.
31/8
o freud aprendeu a chorar. quando se vê sozinho, lamenta-se às paredes. podemos ouvi-lo atrás das portas. funga e chora. no reencontro, salta como um gafanhoto e abana-se todo. até me dá medo que se parta ao meio. a alegria pode ser violenta. é maravilhoso.
04/09
o freud aprendeu a fugir pela varanda. salta e fica e cheirar cantos e perde-se. encontro-o por sorte. estou desolado. não sei como raio se explica a um cachorro as vantagens de ficar. o veterinário diz que, afinal, ele tem apenas seis meses de idade. é uma criança imatura.
05/09
sair para comer uma francesinha, voltar para encontrar o freud numa alegria transcendente. a minha vida está cheia de momentos comoventes. adoro francesinhas e cachorros. adoro a noite. esta noite. não sopra grande vento. está quente. parece que estamos numa ilha fina, daquelas das telenovelas ou das partes românticas dos filmes do james bond.
10/09
o freud suja calças brancas. chapinha nas poças e depois pede festas. não lhe berramos muito porque nos dão ataques de riso. ele pensa que é uma coisa boa, isso de sujar calças brancas. volta a fazer. não percebemos nada de educar cães.
13/09 1º 
socorro. querem roubar-me o freud.
13/09 2º

apareceram os donos do freud.
o canito ficou chocado. sinceramente, sei que são os seus donos, mas ele não se pôs nada feliz. ficou chocado. e não quis atender pelo nome antigo. olhava para mim entristecido e sem reacção. encostou-se naquel
a casa com ar de bicho no divã.
eu, nem queiram saber, parece que me cortaram parte do corpo para atirar ao quintal do vizinho. não acredito que já não tenho o meu pequeno amigo freud, que me buscava ensimesmado e maroto, a pedir-me biscoitos e a choramingar-se para passearmos. bastou-me um mês para que aquele cão de meio palmo me fosse família do coração. ao vir embora, senti que deixava ali alguém. e, se falasse, talvez tivesse dito que preferia voltar comigo. eu acho isso. que ele preferia voltar comigo. sobra mais uma fotografia, que lhe tirei hoje mesmo, quando dormitava ao pé de mim. como sempre, o meu trabalho dava-lhe sono.




14/09

agradeço muito os muitos comentários e gestos de carinho por causa do pequeno freud.
e, também motivado por isso, arranjei um plano, que talvez seja apenas algo para me enganar mais um bocado.
vou dar umas horas e ligar à senhora a ver se ela me vende o cão. talvez a sua ausência por quase dois meses tenha criado um fosso para onde caíram os afectos urgentes. talvez a senhora goste mais de um vestido novo do que de um cão. talvez ela pense apenas que o bichinho vai estar melhor comigo.
se não der certo, têm razão, vou estar sempre a visitá-lo, nem que seja para arreliar as sortes e os azares do mundo.

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